Com a provável inelegibilidade de Bolsonaro pelo TSE, as reações bolsonaristas tentam encontrar formas de manter o território político vivo. O discurso de vítima parece uma estratégia, mas é puro desespero. A vida política de Bolsonaro deve perder fôlego nos próximos meses. O ex-presidente ainda pode servir como um bom cabo eleitoral para determinados políticos, mas sua presença em palanques deve ficar restrita a eventuais aparições.
No afã de salvar algum capital político, apoiadores famosos entram na campanha da vaquinha para ajudar o ex-presidente a pagar as multas que vão se acumulando a partir de processos judiciais. Na verdade, Bolsonaro pode conseguir um montante significativo, pois não duvidemos da força de seus apoiadores, ainda que em estado de agonia e desespero. No entanto, ao que tudo leva a crer, não há mais como salvar sua relevância com Pix.
O fato é que a política fisiológica já sepultou Bolsonaro. Já não é mais necessário que o tio do churrasco falastrão tenha lugar no cenário político. O mérito do bolsonarismo foi o de trazer a direita para os holofotes. Contribuiu para a organização conservadora e trouxe pautas que antes eram vistas com maus olhos para o centro da discussão pública.
Em entrevista para Folha de S.Paulo, às vésperas de julgamento que pode torná-lo inelegível até 2030, Bolsonaro não esconde sua possível derrota e apela para o vitimismo, como alguém que está sendo perseguido politicamente. O cinismo demonstrado na entrevista parece ser também o discurso imperativo daqui para frente. Negar o óbvio, negar as reiteradas tentativas de descredibilizar o sistema eleitoral e assim preparar o terreno para um possível golpe está entre a estratégia e o desespero.
O que chama a atenção nesta entrevista e na figura de Bolsonaro é a síntese melancólica de toda a sua pequenez relacionada a sua visão de mundo. Ao ser perguntado se pretendia ficar no Brasil, Bolsonaro responde que tem convites para trabalhar nos EUA como garoto-propaganda de “venda de imóveis e um montão de coisas. Quando cheguei lá (em janeiro), eu saía de casa e tirava umas 400 fotografias. Fui numa hamburgueria e encheu de gente. Eu enchi a pança e não paguei nada. O meu cachê foi comer de graça”.
O cinismo parece ser seu último reduto argumentativo. Bolsonaro tenta minimizar a gravidade das acusações do TSE, dizendo que não atacou o sistema eleitoral, mas que só estava apontando falhas, além jogar a culpa dos atos terroristas do dia 8 de janeiro no governo atual.
O fato é que entre Pix, cinismo e a imagem de bufão existe um Bolsonaro frágil, melancólico e decadente, que sai de cena muito menor que o bolsonarismo que o levou ao mais alto cargo da política brasileira.
O ex-presidente foi engolido pelo fisiologismo político e deve voltar para a frente da churrasqueira, onde continuará fazendo suas piadas misóginas, racistas e homofóbicas para o seu seleto grupo. Enquanto isso, a direita deve ocupar esse espaço, talvez um pouco mais moderada, porque já percebeu que o discurso radical de Bolsonaro tem data de validade.
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