Como a China conseguiu evitar o pior do colapso tecnológico global

0
Como a China conseguiu evitar o pior do colapso tecnológico global

O mundo foi abalado por uma crise tecnológica que causou a temida tela azul em sistemas de computação globalmente na última sexta-feira (19). Entretanto, a China conseguiu, em grande parte, escapar dos efeitos devastadores desse evento. O fenômeno não foi um mero acaso, mas resultado de estratégias cuidadosas e da menor dependência de tecnologia estrangeira que Pequim vem cultivando ao longo dos anos.

A principal razão pela qual a China se saiu relativamente ilesa é o uso limitado do software de cibersegurança CrowdStrike no país. Desenvolvido por uma empresa americana, o CrowdStrike tem uma história de críticas às ameaças cibernéticas associadas à China. Em razão disso, poucas organizações chinesas optam por utilizar produtos de empresas que possuem um histórico de críticas a Pequim. Como resultado, a crise provocada pela tela azul afetou principalmente empresas e organizações internacionais com presença na China, como as cadeias de hotéis Sheraton, Marriott e Hyatt. Usuários em redes sociais chinesas relataram dificuldades para fazer check-in nesses hotéis, refletindo o impacto limitado que a crise teve nas operações locais.

Outro fator crucial que ajudou a China a evitar os problemas globais causados pela tela azul é sua menor dependência de tecnologias ocidentais, especialmente os produtos da Microsoft. Enquanto a maioria dos países depende fortemente das soluções da Microsoft para suas operações tecnológicas, a China desenvolveu um robusto setor de serviços de nuvem gerido por gigantes domésticos como Alibaba, Tencent e Huawei. Essas empresas oferecem alternativas aos serviços da Microsoft, o que ajudou a reduzir a vulnerabilidade da China a interrupções causadas por problemas no software de empresas estrangeiras.

A resiliência da China também pode ser atribuída a uma estratégia nacional mais ampla de autossuficiência tecnológica. A Microsoft opera na China por meio de uma parceria com a 21Vianet, uma empresa local que gerencia os serviços da Microsoft de forma independente da infraestrutura global da companhia americana. Esse arranjo cria um isolamento natural entre os serviços essenciais utilizados na China, como aqueles pelos quais são responsáveis os setores bancário e de aviação, e as interrupções globais que afetaram outras partes do mundo.

Pequim tem adotado a redução da dependência de sistemas e tecnologias estrangeiros como uma forma de fortalecer a segurança nacional. Esse enfoque é comparável às ações tomadas por alguns países ocidentais em relação à tecnologia chinesa, como o banimento da empresa Huawei em 2019 e a recente decisão do Reino Unido de proibir o uso do TikTok, de propriedade chinesa, em dispositivos governamentais em 2023. A China, por sua vez, tem avançado na criação de uma infraestrutura tecnológica nacional robusta para diminuir sua dependência de tecnologias externas.

O governo dos Estados Unidos, por sua vez, tem intensificado esforços para restringir a venda de tecnologias avançadas de semicondutores para a China e para limitar o investimento de empresas americanas em tecnologia chinesa. Essas ações são justificadas pelos EUA como medidas de segurança nacional. No entanto, um editorial recente do jornal estatal chinês Global Times lançou críticas à abordagem dos EUA, afirmando que a tentativa de ditar regras globais sobre tecnologia e segurança é irônica diante do caos global causado por um erro em uma de suas próprias empresas. O editorial também fez uma crítica ao “monopólio” das grandes corporações de tecnologia, alegando que a confiança excessiva nessas empresas pode introduzir novos riscos e impedir um compartilhamento mais inclusivo dos avanços tecnológicos.

Além das análises e críticas, houve também um toque de humor nas redes sociais chinesas. Apesar da resiliência demonstrada pela China durante a crise, alguns trabalhadores expressaram seu alívio e agradecimento pela “feriado antecipado” proporcionado pela falha da Microsoft. No Weibo, uma das principais redes sociais da China, surgiram postagens com imagens de telas de erro azul acompanhadas de mensagens de gratidão pela inesperada pausa na rotina de trabalho.

Não há posts para exibir